‘A última marcha dos órfãos’. Uma das histórias mais lindas e tristes do período da 2ª Guerra Mundial

A bela e emocionante história de Janusz Korczak, pedagogo que, por amor, decidiu morreu junto com seus 192 alunos em uma câmara de Gás.

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Janusz Korczak, pseudônimo de Henryk Goldszmit ou apenas ‘O Velho Doutor‘, nasceu em Varsóvia no final do Século XIX. Durante a Segunda Guerra Mundial, Korczak protagonizaria um dos episódios mais emocionantes da história da humanidade.

De uma família judia com posses, se formou médico pediatra, mas abandonou a profissão formal, por não concordar em cobrar para exercer a medicina, após abandonar a clínica onde atendia, iniciou um trabalho voluntário passando nas casas de pessoas menos abastadas e ensinando-as a prevenir doenças e educar os filhos para manter a higiene necessária para evitar enfermidades. O doutor acreditava que remédios e medicina eram apenas complementações de um boa educação.

Em 1912, já com 30 anos de idade, fundou um orfanato na cidade de Varsóvia, onde recolhia orfãos de judeus, ao longo da Primeira Guerra Mundial a instituição inflou e foi preciso aumentar consideravelmente o tamanho das instalações.

Lá, munido de práticas pedagógicas transformadoras, como a famosa ‘prática de justiça restaurativa entre crianças’, tal prática visava ensinar as crianças a autonomia necessária para a resolução dos próprios conflitos, usando o diálogo para mediar situações conflituosas vividas entre eles, seus trabalhos influenciaram diretamente o pensamento de grandes pensadores como o Suíço Jan Piaget, que ao visitar o orfanato disse:

Este homem maravilhoso teve a coragem de confiar nas crianças e nos jovens, com os quais trabalhava, ao ponto de transferir para as suas mãos as ocorrências disciplinares e de confiar a certos indivíduos as tarefas mais difíceis e de grande responsabilidade“.

Durante a longa vida do pediatra, muitos outros feitos foram registrados, Janusz Korczak foi um dos maiores defensores do direito à infância, insipiente na época, escreveu as primeiras leis de proteção às crianças na Europa, ele dizia que: “Sem a garantia de uma boa infância, não há vida adulta saudável“.

Mas os principais feitos da vida do pedagogo passariam para a história durante a ocupação Polônia pelos Nazistas. Após a invasão do exército alemão, os Judeus de Varsóvia foram enviados para um grande Gueto, isolado e vigiado 24 horas por dia.

O orfanato de Korczak, que na época abrigava mais de 200 crianças, foi transferido para péssimas instalações dentro do Gueto. Como nas dependências do local os Judeus recebiam muito pouca comida, e tinha que se manter a partir do comércio interno, Janusz contou com a boa vontade de outros moradores, para conseguir comida, livros e cadernos, visando continuar a educação dos orfãos. Dentro do Gueto, formou uma escola e ajudou a educar mais de 1000 crianças.

Em 1942, quando os nazistas iniciaram a “Solução Final“, uma ordem foi expedida pelo Reich: Todos os órfãos do Gueto seriam transferidos para Treblinka, com o objetivo de extermina-los na Câmara de gás.

Korczak, muito conhecido e respeito, recebeu a proposta de ficar no Gueto ou até ser libertado, mas a recusou, resolveu que iria junto com seus órfãos para a Câmara de Gás: “Não se abandona uma criança doente ou carente durante a noite. Eu tenho duzentos órfãos; num momento como esse, vou ficar ao lado deles a cada minuto“.

Foi então que no dia 5 de agosto de 1942, quando a SS recebeu ordem para acabar com o Gueto de Varsóvia, que o ato de Janusz entraria para sempre na história da humanidade.

O evento de locomoção das 192 crianças para a morte, ficou conhecido como a “Última Marcha dos Órfãos”. Janusz tentou preparar suas crianças para o terrível destino que os aguardavam, munidas de seus livros prediletos, as crianças marcharam para um vagão de trem alemão, no caminho, sob a batuta de Korczak, ‘cantarolavam canções típicas da infância’, e ‘liam seus livros prediletos’, algumas ‘sorriam’ e pensavam estar participando de uma excursão.

De mãos dadas com Velho Doutor, todos adentraram o trem, ao som das palmas de outros judeus, o pedagogo e seus alunos caminharam lentamente para a morte. Todos foram executados em uma câmara de gás quilômetros dali.

O grande pedagogo, mesmo com a possibilidade de escapar do fim trágico, não abriu mão de morrer junto aos seus alunos, lutando, mesmo que pelas vias educacionais por uma sociedade mais justa e humana, ele sabia que uma desgraça como o advento do nazismo tinha muito a ver com uma educação falha e a falta de respeito à uma infância pacifica e saudável.

Texto – Joel Paviotti via Caicó na Rota da Noticia

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