O meio-irmão do líder norte-coreano foi assassinado com VX, um poderoso agente neurotóxico conhecido por sua utilização como arma química, segundo a polícia malaia, que investiga o ataque de 13 de fevereiro contra Kim Jong-nam.
O veneno utilizado pelos assassinos foi o agente VX – uma versão ainda mais fatal que o gás sarin – indolor, inodoro e altamente tóxico, disse a polícia ao apresentar os resultados de uma análise toxicológica preliminar.
O VX, como é conhecido no jargão militar da Otan, ataca o sistema nervoso e muscular, atuando por inalação ou simples contato com a pele. A substância é considerado uma arma de destruição em massa pela ONU. A partir de 1997, a Convenção sobre Armas Químicas da entidade determinou a destruição dos estoques globais de VX. O acordo foi assinado por todos os Estados participantes da organização.
Investigação
Traços do veneno foram encontradas em amostras do rosto e dos olhos do meio-irmão do líder norte-coreano Kim Jong-un, que morreu após ter sido atacado por duas mulheres no aeroporto de Kuala Lumpur.
Imagens do sistema de videovigilância do aeroporto mostram em seguida a vítima, um homem corpulento de 45 anos, solicitando ajuda aos funcionários do local, que o levaram a uma clínica do terminal aéreo para receber ajuda. Kim Jong-nam, que estava no aeroporto para embarcar rumo a Macau, faleceu pouco depois enquanto era levado ao hospital.
A necropsia descartou um ataque cardíaco e a investigação havia se concentrado na hipótese de que uma toxina teria sido aplicada em seu rosto.
Os investigadores malaios tentarão determinar de onde este agente químico fatal é procedente, declarou o chefe da polícia nacional, Khalid Abu Bakak. “Vamos investigar como entrou no país. O produto químico é ilegal. É uma arma química”, disse.
O VX pode ter sido escondido sem dificuldade em uma maleta diplomática, que não está submetida aos controles habituais da alfândega, declarou um especialista em segurança da região, Rohan Gunaratna.
‘Contrabando’
A Coreia do Norte utilizou no passado maletas diplomáticas “para passar como contrabando materiais que estariam submetidos a controles se transitassem pelos canais habituais”, acrescentou Gunaratna, diretor do Centro Internacional de Investigação sobre Terrorismo e Violência Política.
E a Coreia do Norte fabricou VX anteriormente, acrescentou.
Segundo Lee Il-Woo, analista sul-coreano de defesa, “a Coreia do Norte teria grandes reservas de VX, que pode facilmente ser fabricado a preços baixos”.
“Os serviços de inteligência norte-coreanos foram muito ativos na Tailândia, Malásia e Indonésia, e hoje representam uma ameaça para a região”, segundo Gunaratna.
Desde o início deste caso digno de um livro de espionagem, a Coreia do Sul acusa seu vizinho do Norte, citando uma “ordem permanente” do líder Kim Jong-un de eliminar seu meio-irmão, crítico do regime comunista que governa um dos países mais fechados do mundo.
Há três suspeitos detidos: as duas mulheres – uma vietnamita e uma indonésia – e um homem norte-coreano.
A polícia malaia também tem suspeitas sobre quatro norte-coreanos que fugiram da Malásia no mesmo dia do crime para viajar a Pyongyang. Também quer interrogar outros três norte-coreanos, entre eles um diplomata em Kuala Lumpur.
Nesta semana, o ministro sul-coreano das Relações Exteriores, Yun Byung-Se, convocou a comunidade internacional a tomar medidas contra a Coreia do Norte se for confirmada a hipótese de um ataque lançado por Pyongyang.
“A comunidade internacional encararia isso como um ato de terrorismo de Estado que afeta a soberania da Malásia”, declarou Yun após um encontro na quarta-feira com seu colega britânico, Boris Johnson.
A imprensa oficial da Coreia do Norte, por sua vez, atacou duramente a Malásia e rejeitou a investigação que, segundo ela, está politizada. A agência de notícias KCNA quebrou o silêncio imposto após o assassinato e acusou na quinta-feira este país de ser o responsável por sua morte e de ter armado um complô com a Coreia do Sul.
“O principal responsável por esta morte é o governo da Malásia, já que o cidadão da República Popular faleceu em seu território”, disse a KCNA, que atribui a tese de envenenamento a “rumores insensatos”.
Por “Isto É” via CRN