Aeronáutica colombiana confirma que avião caiu sem combustível

Destroços do avião que levava a equipe da Chapecoense para a Colômbia (Foto: Aeronáutica civil colombiana)

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Acidente matou 71 pessoas terça-feira, em Medellín

A Aeronáutica Civil Colombiana confirmou, na noite desta quarta-feira, que o avião da Lamia, que levava a delegação da Chapecoense para Medellín, ao cair não tinha combustível no tanque.

Segundo o secretário de segurança aérea do país, Fredy Bonilla, foi aberta uma investigação para determinar os motivos pelos quais isso ocorreu, já que contraria as normas de aviação internacional.

Essas são as primeiras informações oficiais para elucidar as causas do desastre, que matou 71 pessoas, entre jogadores e comissão técnica do time catarinense, além de tripulantes e jornalistas, que iriam cobrir a final da Copa Sul-Americana contra o Atlético Nacional. A suspeita de pane seca já havia sido comentada após a divulgação da conversa entre o piloto Miguel Quiroga, do Avro RJ-85, e a torre de comando local.

— O plano de voo do avião estabelecia Bogotá como aeroporto alternativo caso não pudesse pousar em Rionegro. Mas o avião não tinha combustível suficiente para ir a Bogotá — declarou o coronel, acrescentando que as caixas pretas serão enviadas, em breve, às autoridades da Inglaterra, país de origem da fabricante do avião.

O atraso para embarque de São Paulo com destino a Medellín desencadeou uma série de decisões atropeladas e arriscadas, incluindo o não reabastecimento da aeronave, que culminaram no acidente fatal. Se esse voo fretado, de cujo plano constava uma parada para reabastecimento em Cochabamba, na Bolívia, para reabastecimento, tivesse sido autorizado pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a delegação do time de futebol chegaria ao destino às 23h (de Brasília; 20h na Colômbia) de segunda-feira.

O regulamento da Anac só permite um voo fretado do Brasil à Colômbia se a empresa for brasileira ou colombiana. Assim, a solução da Chapecoense foi embarcar numa aeronave da BoA (Boliviana de Aviación) para Santa Cruz de la Sierra (Bolívia) e de lá, iniciar a viagem com a Lamia.

O voo da BoA, no entanto, atrasou mais de uma hora para sair do Brasil: a previsão era às 15h15m, mas decolou às 16h22m. E a aterrissagem, prevista para as 17h32m, aconteceu às 18h41m.

Com isso, o voo entre Santa Cruz de la Sierra e Medellín, que passou a ser a nova rota, também atrasou. E impossibilitou uma parada em Cobija (Bolívia) para reabastecimento. Isso porque esse aeroporto não opera à noite, e a previsão de chegada nesse local era por volta das 20h.

Assim, o piloto Miguel Quiroga, também sócio da Lamia, optou por seguir direto, sem pousar em Cobija nem Bogotá, uma segunda opção para reabastecimento. Economizaria, assim, cerca de uma hora. Encheu o tanque, cuja autonomia era de 2.963 quilômetros para uma distância de 2.985 quilômetros.

O plano não contava com a espera para o pouso. Um outro avião, da Viva Colombia, declarou situação de emergência e ganhou prioridade. E a aeronave que transportava a Chapecoense precisou dar duas voltas, procedimento conhecido como órbita, para aguardar a autorização de pouso.

A opção por viajar com o tanque justo, sem reserva ou parada, foi apontada por Bruno Goytia, filho do copiloto Ovar Goytia que estava no avião, como o motivo da queda, segundo entrevista concedida por ele ao jornal boliviano “El deber”.

— Tomaram a decisão de encher o tanque por completo e seria possível fazer o pouso, tanto que caíram a apenas 17 milhas do aeroporto, que correspondem a três ou cinco minutos. Mas o tráfego de espera consumiu todo o combustível que restava — afirmou Bruno, que estuda pilotagem. — Pelo que eu tinha entendido, haveria uma escala em Cobija. Mas o avião que estava trazendo os jogadores da Chapecoense a Bolívia teve um atraso. Então, não podia aterrissar em Cobija, pois não há operações noturnas, pois não há luz na pista. Aí tomou-se esta decisão de encher o tanque por completo. Além disso, os jogadores tinham que treinar.

Segundo um controlador de voo, que pediu anonimato, a tática de economia de combustível, viajando sem reserva é velha conhecida. Conta que os pilotos de empresas que adotam esse mau costume evitam declarar emergência à torre para não levantar suspeitas, o que acarreta investigação imediata e multas pesadas à empresa.

De acordo com Jorge Barros, piloto da reserva da Força Aérea Brasileira (FAB) e que já trabalhou para Centro de Investigações e Prevenção de Acidentes (Cenipa), o piloto Quiroga não soube lidar com uma possível frustração de seu cliente, que poderia chegar mais tarde que o previsto no destino, caso fizesse uma parada para reabastecimento.

— Existe um ditado jocoso que é o seguinte: “O avião é o meio de transporte mais rápido para quem não tem pressa”. O avião é um veículo rápido, claro, mas quando está no ar. Há uma série de demandas de solo e de planejamento que o seguram no chão e que podem atrasar uma viagem. Isso sem contar, chuva, tráfego aéreo, descida de emergência que causam frustração em todos do voo — comenta Barros. — E a habilidade para lidar com essas variáveis, planejamento e frustrações diferenciam um piloto de um comandante. O Quiroga, que poderia ser um ás, não foi um comandante. Foi irresponsável ao não planejar o pior cenário. Não se viaja contando com o melhor cenário.

Quando indagado sobre o plano de voo oferecido ao clube e se o avião faria ou não uma parada em Bogotá, o presidente em exercício da Chapecoense, Ivan Tozzo, desconversou:

— Não sei. (O que se especula) é que não tinha um plano B, Mas a Chapecoense não tem, a principio, nada a dizer. (Colaborou Tiago Dantas).

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